Trabalhadores alertam presidente da Câmara sobre efeitos da privatização da Eletrobras
Representantes dos empregados no Conselho de Administração enviam carta a Rodrigo Maia rebatendo os argumentos e apontando os riscos do diluição do seu controle no mercado
Bolsa de Nova York, 2011 - Foto: Jagz Mario - CC BY-SA 2.0
Os integrantes eleitos pelos empregados do Conselho de Administração do Grupo Eletrobras enviaram uma carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com uma alerta sobre os riscos de uma possível privatização da companhia. O documento rebate o falso argumento de que a sustentabilidade da estatal dependeria de sua capitalização e de investimentos da ordem de R$ 12 bilhões por ano.
Na quarta-feira (21), o parlamentar afirmou que tem pressa em votar o projeto de lei que permite a privatização da Eletrobras, o que seria possível com um novo projeto do governo enviado à Casa. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou a empresários que a intenção do governo é oferecer ações no mercado e diluir a participação acionária no controle da empresa.
Os conselheiros desmentem o argumento do governo de que a Eletrobras precisar ser privatizada para “ter futuro”. Para os trabalhadores, se fosse do interesse dos acionistas, a empresa estaria investindo mais do que investe hoje, em vez de priorizar repasse de dividendos a acionistas.
A carta apresenta dados que mostram resultados positivos no balanço da Eletrobras. Em 2018, o lucro foi de R$ 13,3 bilhões e somente no primeiro semestre de 2019, já chega a R$ 6,6 bilhões. Mostra ainda que seu nível de endividamento é baixo em relação a empresas do mesmo setor e, por isso, tem condição de crescer e realizar novos investimentos, sem a necessidade de ser ‘capitalizada’.
Os conselheiros alertam que uma empresa do porte da Eletrobras, nas mãos da iniciativa privada, traria uma ‘explosão das tarifas’, já que o Brasil ainda não tem políticas que regulam e fiscalizam de forma eficiente o setor de energia elétrica. E citam como exemplo casos em outros países como Leste dos EUA, Portugal e Argentina, onde houve manipulação e aumento de preços aos consumidores.
Outra preocupação é com a segurança da estrutura da empresa. A Eletrobras tem hoje mais de 200 barragens em bom estado de vigilância e os desastres de Mariana e Brumadinho, onde há barragens controladas pela Vale, privatizada nos anos 1990 pelo governo FHC, demonstram que há falhas na regulação e controle de empresas privatizadas. O risco, alerta o documento, tenderia a se ampliar com a capitalização da empresa.
Ao contrário do Brasil, que desde o golpe de 2016, vem desmontando o setor público e vendendo estatais, países como Inglaterra e Alemanha fazem caminho inverso. Reestatizaram empresas de serviço público, após constatação de que essas companhias pioraram os serviços, cobraram caro e não reinvestiram seus lucros na expansão da rede.
Os representantes dos empregados no Conselho de Administração reúne trabalhadores da Eletrobras e das subsidiárias Furnas, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, CGTEE, Amazonas GT, Cepel e Eletronuclear.
A integra do documento:
Carta_ao_presidente_da_Câmara_Rodrigo_Maia_23-08-2019_1.pdf
Carta_ao_presidente_da_Câmara_Rodrigo_Maia_23-08-2019_1.pdf
Fonte: CUT