“Querem destruir a engenharia nacional”, afirmou o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner
O ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, afirmou que há um movimento no país de destruição da inteligência e da tecnologia nacional.
Fonte: Fisenge
Durante o segundo dia (14/3) do Fórum Social Mundial (FSM), foram realizados debates sobre a atual crise política no Brasil. O ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, afirmou que há um movimento no país de destruição da inteligência e da tecnologia nacional. “Querem transformar o Brasil em um mero fornecedor de commodities. Estamos vendo a nossa inteligência sair do país. Querem entregar para destruir a engenharia”, disse Jaques Wagner, enfatizando que uma saída para crise poderá vir depois de outubro.
Um dos exemplos de entrega é o anúncio da privatização da Chesf. Com o lema “Privatizar a Chesf é privatizar a água. Privatizar a água é privatizar a vida”, uma campanha, promovida pelo Senge-BA e apoiada pela Fisenge, estampou camisetas, anúncios e cartazes pelo estado. “A luta contra a privatização da Chesf é uma luta contra a entrega de recursos de infraestrutura diretamente ligados à segurança e à soberania nacional. Querem entregar nosso patrimônio para pagar dívidas internacionais”, pontuou a engenheira Elaine Santana, diretora da Fisenge e vice-presidente do Senge-SE. A Chesf é uma das 14 subsidiárias da Eletrobras.
Uma das principais preocupações é a preservação do Rio São Francisco, que contribui para a geração de energia, irrigação, pesca, transporte e consumo de água na região. “No Nordeste, a privatização da Chesf e das subsidiárias de água poderá significar a ampliação da restrição de acesso à água e energia, o que já é uma realidade em algumas regiões. No Brasil, a principal matriz de geração de energia é hidrelétrica”, explicou. Nesse sentido, engenheiros, profissionais de diversas áreas, movimentos sociais e sindicatos na organização do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), cujo pré-lançamento acontecerá no dia 16/3, na tenda da CUT.
Defesa da engenharia nacional
Pela primeira vez no Fórum Social Mundial, Elaine Santana acredita que a única saída para a crise é a política. “O Fórum agrega variadas representatividades para discutir questões sociais e a engenharia está diretamente inserida nessas demandas. Não se pode pensar em transformação social sem engenharia. Por isso, é fundamental engajar debates como a engenharia pública, disponível para as classes sociais mais baixas”, destacou. Um exemplo é a oficina de assistência técnica para habitação de interesse social, que acontecerá sábado (17/3). “Não há como pensar uma cidade sem engenharia”, concluiu. A garantia de assistência técnica gratuita está assegurada pela lei 11.888/2008. No entanto, uma pesquisa de 2015, realizada pelo DataFolha a pedido do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) - revelou que 54% dos brasileiros já construíram ou reformaram suas casas e, desse grupo, 85% realizaram obras sem orientação técnica.
O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, lembrou que até 2002 toda a engenharia do Brasil era contratada no exterior. “Por muitas décadas, perdemos muita mão de obra qualificada. A partir de 2002, voltamos a construir estaleiros e fortalecer uma política de indústria naval forte, gerando emprego e acúmulo tecnológico”, lembrou. O geólogo e diretor do Senge-BA, Manoel Barretto declarou que algumas das saídas é reforçar a engenharia e mudar o governo.
Diversidade
Entre prédios e os pavilhões da Universidade Federal da Bahia (UFBA), é possível perceber uma maioria de jovens. O estudante de engenharia civil, Wellington Coutinho, reforçou que o Fórum Social Mundial é um espaço para voz que não são visíveis no cotidiano, principalmente na política. “Atualmente, o estigma de elitização dos cursos de engenharia tem diminuído por conta de políticas afirmativas. Precisamos trazer, aos poucos, os estudantes para o debate político-social, ainda mais nesse cenário de desemprego na engenharia. Os jovens querem participar dos espaços de decisão”, concluiu.