Para diretor do Senge RJ, intransigência nos ACTs reflete descaso do governo com o serviço público
Em entrevista à Rádio Petroleira, do Sindipetro-RJ, Felipe Araújo alerta para a “guerra de trincheira” do governo contra as estatais
A piora dos acordos coletivos nas estatais reflete o deslocamento de prioridades do governo na gestão do setor público – favorecendo os interesses de acionistas e deixando de lado a preocupação com a qualidade dos serviços e o fortalecimento de empresas estratégicas. A avaliação é de Felipe Araújo, diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) e da Associação dos Empregados de Furnas (Asef), durante entrevista ao programa Privatizar Faz Mal ao Brasil, da Rádio Petroleira, do Sindipetro-RJ. Nesse modelo, diz ele, o governo ignora que “o acionista principal é a sociedade brasileira”.
Segundo Felipe, parte do programa governamental de corte de direitos e alienação do patrimônio público do país inclui um ataque grande aos acordos coletivos de trabalho. É um momento, diz ele, de ter uma visão maior dos acordos do que o do ano de sua vigência, considerando aspectos políticos estratégicos.
A intransigência das direções em negociar com trabalhadores está inserida, de acordo com sua avaliação, na proposta ultraliberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. O dirigente sindical lembra que, nas épocas de bem-estar social, o Dieese observou que, em média, 30% do lucro das empresas eram distribuídos para acionistas, e 70% destinados a investimentos na produção, diz Felipe. “Este ano, Furnas distribuiu cerca de 70% do lucro e 30% ficaram na empresa. Aí se argumenta que não há dinheiro para investir. Mas há recursos, o índice de endividamento em relação ao EBITDA (lucro antes de impostos e taxas) está muito bom, baixíssimo. A empresa poderia fazer investimentos, novas usinas, novos empreendimentos. Mas não: a ordem é deixar tudo pronto para privatização.”
Guerra de trincheira
O embate entre a sociedade civil e o governo na defesa das empresas públicas ameaçadas de privatização, na opinião de Felipe, é “uma guerra de trincheiras”. Nesse sentido, ele alerta que a tentativa de vender o controle do sistema Eletrobras por meio da diluição de suas ações poderá servir de laboratório para operação semelhante na própria Petrobras. “É só uma questão de escala para aplicar na Petrobras. Usar [a Eletrobras] como case.”
Ao se dispor a vender todas as empresas públicas relevantes para o país, o governo “vai na contramão do que está fazendo todo mundo que tem soberania, controle sobre seu desenvolvimento”, analisa o dirigente. “Não é uma estratégia de desenvolvimento – pelo fortalecimento de empresas estratégicas --, mas uma narrativa de manipulação de massa.”
Ele lembra que vários países estão reestatizando serviços públicos. E que a Alemanha criou recentemente um fundo nacional com o objetivo de recomprar ações de empresas alemãs importantes, ameaçadas de terem o controle adquirido pelo capital estrangeiro. “Estão, com isso, entrando na disputa entre EUA e China.”
O petróleo tem que ser nosso
O programa Privatizar Faz Mal ao Brasil é transmitido todas as quintas-feiras, às 20h, conduzido pela jornalista Rosa Maria Corrêa. Nesta edição, além de Felipe, recebeu o diretor do Sindipetro-RJ Márcio Pinheiro, engenheiro naval e empregado da Petrobras. Faz parte do trabalho dos petroleiros na defesa do patrimônio público, contra as privatizações. A categoria também abriu um canal para financiamento coletivo, em que é possível apoiar as ações de resistência, intitulado "O petróleo tem que ser nosso". Para contribuir clique no link: https://benfeitoria.com/opetroleotemquesernosso
PARA OUVIR O PROGRAMA DA RÁDIO PETROLEIRA NA ÍNTEGRA