Nota do Senge RJ contra a necropolítica de Estado
O assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips revelou ao mundo a escalada de violência que avança sem freio no Brasil e precisa ser detida por uma Frente pela Legalidade. Leia no link a íntegra da nota.
O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) compartilha o choque, a dor e o luto da sociedade brasileira pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. A morte dos dois defensores da floresta amazônica e dos povos indígenas revelou aos olhos do mundo a escalada de violência ambiental, de crimes e ataques aos direitos humanos que avança sem freio no Brasil desde a eleição do atual governo bolsonarista – a forma própria do fascismo gerada em nosso território.
Neste momento de perplexidade e horror, a sociedade precisa se unir para exigir uma investigação aprofundada e independente, que aponte toda a cadeia de mandantes e interessados na morte de Bruno e Dom, profissionais e ativistas insubstituíveis no seu amor à floresta e aos seus habitantes de direito. Não se pode aceitar que o país fique mais uma vez a perguntar ao vácuo “quem mandou matar”, como faz desde 2018, quando foi assassinada a vereadora Marielle (Psol-RJ) e seu motorista Anderson Gomes.
Punir os responsáveis por mais essas mortes é uma bandeira que deve engajar todos os brasileiros democratas, para impedir o agravamento do verdadeiro Estado de Exceção em que nos afundamos. Porque apenas um Estado de Exceção explica que o Executivo assista impassível à expansão criminosa na Amazônia, região altamente militarizada, onde o 4º Batalhão do Exército teria 12 helicópteros à disposição, acionados tardiamente, apenas após vários dias, em que familiares, amigos, opinião pública nacional e internacional pediam reforço na busca dos dois desaparecidos no Vale do Javari. Uma inação acintosa e inexplicável.
Importante registrar que foi trabalho da própria equipe de indígenas da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) a localização das principais pistas e descobertas que levaram à localização dos objetos das vítimas e de seus restos mortais. E não das super aparelhadas Forças Armadas e policiais da região.
As mortes de ativistas dos direitos humanos, de defensores do meio ambiente e de jovens negros nas periferias, as queimadas, a contaminação de rios, entre outras brutalidades – como a câmara de gás numa viatura da Polícia Rodoviária Federal, que matou asfixiado Genivaldo dos Santos – , compõem o quadro sombrio e dramático do bolsonarismo. O governo dedica-se a desmontar todos os instrumentos do Estado necessários à proteção da vida, à promoção do bem-estar e ao cumprimento da Constituição Federal. E o presidente da República ainda estimula a violência, o crime e o abuso por meio de declarações e ações de franca provocação.
O resultado da necropolítica é quantificável. Entre 2020 e 2021, o número de morte em conflitos nas zonas rurais do país aumentou dez vezes; na região sudoeste do Amazonas, onde fica a Terra Indígena Vale do Javari, passaram de 14 em 2019 para 85 em 2021, um crescimento de 507%, de acordo com relatórios da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas. Crime ainda impune, foi assassinado com dois tiros na nuca, também no Vale do Javari, o colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) Maxciel Pereira dos Santos, em 2019. Pouco se sabe dessa morte.
O Senge RJ acredita que a sociedade civil e suas representações democráticas, no campo popular, no Legislativo e no Judiciário, podem começar a virar esse jogo somando forças em uma grande Frente pela Legalidade. Sua missão será exigir a punição dos crimes contra a vida e a natureza, e impedir o golpe contra o processo eleitoral que, todos sabemos, o atual governo já ensaia.
O Senge RJ manifesta seu pesar pela morte de Bruno e Dom, solidarizando-se com amigos e familiares. Está mobilizado para cobrar investigação e punição dos responsáveis.
Chega de morte! Pela volta urgente da democracia popular!
Rio de Janeiro, 17 de junho de 2022 - SENGE RJ e movimento SOS Brasil Soberano