Movimento social rebatiza ponte Costa e Silva
Ponte em Brasília recebeu o nome do líder estudantil Honestino Guimarães
Fonte: CUT
Os 21 anos de ditadura militar no Brasil (1964 – 1985) constituem o período de maior repressão do povo brasileiro após a proclamação da República. Em Brasília, a história não foi diferente. A capital federal também sofreu o ataque do governo reacionário, combatido por jovens – na maioria estudantes – que tiveram seus corpos torturados, mortos e ocultados. Entretanto, a história do povo também foi escondida, possibilitando a perpetuação da ditadura, de forma camuflada. Para pressionar o processo de reconstrução da história, nesse sábado (10), a CUT-DF e o movimento social rebatizaram a ponte Costa e Silva com o nome do líder Honestino Guimarães. O processo continuará na Câmara Legislativa.
De acordo com o secretário de Política Social da CUT-DF, Ismael José César, após o ato simbólico de rebatismo da ponte, a ação será política. “Nós temos que convencer o governo do Distrito Federal da importância de rebatizar o nome da ponte Costa e Silva para Honestino Guimarães. Nós iremos encaminhar um documento ao governador do DF e fazer gestão junto à Câmara Legislativa para que se aprove o projeto que oculta o nome do ditador e divulgue o nome do líder que combateu a ditadura”, afirma.
No ato de sábado, os manifestantes afixaram o nome de Honestino Guimarães nas placas que indicam o acesso à ponte e esticaram duas grandes faixas com os dizeres: “Honestino vive!” e “Honestino Guimarães, símbolo de liberdade”.
De geração em geração
A lição e o exemplo de Honestino Guimarães estão perpetuados na família Guimarães. O corpo magro e o rosto jovem encoberto por barba densa dá a Matheus Nunes Guimarães a semelhança física do tio, Honestino Guimarães. Os ideais libertários e a militância no movimento social completam a semelhança do sobrinho ao líder estudantil que combateu a ditadura.
Matheus conta que conheceu a história do tio aos 12 anos, com o lançamento do livro "Honestino, o bom da amizade é a não cobrança", escrito pela mãe de Honestino Guimarães. “A experiência de conhecer a história de Honestino teve até um certo cunho espiritual para mim. Conhecendo a história dele, é como se eu conhecesse a minha própria história. Por isso, as páginas que estão em branco na vida dele são como lacunas na minha vida. O processo de identificação foi muito forte e, por isso, eu tento dar continuidade a luta de Honestino que, sem dúvida, não terminou. Ele lutou por uma liberdade, por uma justiça que ainda não aconteceram. Essa é a minha maior herança e eu não posso ser negligente”, relata Matheus.
Para o sobrinho de Honestino, “a sociedade que a gente vive hoje, com a consciência tão atrofiada e com a mente tão manipulada, é um elemento chave para que a ditadura continue existindo, de forma disfarçada”. Diante deste cenário, Matheus avalia que o ato de rebatismo da ponte Costa e Silva para Honestino Guimarães tem simbologia ímpar no processo de reconstrução do passado para a construção de um presente e futuro com a história de opressão, lutas e conquistas vivida pela sociedade do País. “O povo do Brasil não estuda a história do próprio passado. A gente precisa conhecer o nosso passado. A gente sabe que a história, muitas vezes, se repete. E não conhecer o passado é possibilitar que ele volte. Você vai à Alemanha e não vê a estátua de Hitler. Vai à Itália e não vê homenagens à Mussolini. Por que em Brasília temos que ter uma homenagem ao Costa e Silva? Então, nenhum nome melhor para substituir o de Costa e Silva, ainda mais sendo aqui, na capital do Brasil, é melhor que o de Honestino Guimarães, que tanto lutou por liberdade e justiça em Brasília. Isso vai suscitar na sociedade a reflexão sobre a nossa história”, afirma.
Honestino Guimarães x Costa e Silva
Arthur Costa e Silva foi presidente do Brasil de 1967 a 1969 e tem como marca do governo a instituição do Ato Institucional nº 5, que reforçou a opressão aos opositores do regime ditatorial e extinguiu uma série de direitos individuais. O governo Costa e Silva foi um dos patrocinadores das torturas, mortes e ocultação de corpos daqueles que lutavam pela liberdade de expressão.
Honestino Monteiro Guimarães foi eleito para o Diretório Acadêmico de Geologia da Universidade de Brasília em 1966 e, em 1967, mesmo estando preso, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (FEUB). Em agosto de 1968, forças do exército e polícia política invadiram a UnB para cumprir mandados de prisão contra Honestino e mais sete lideranças estudantis. Honestino foi arrancado da sede da FEUB e ficou preso até novembro. Ainda em 1968, como punição por ter liderado a expulsão de um falso professor da UnB, foi desligado da universidade. Continuou coordenando encontros estudantis e lutando contra o regime militar durante cinco anos de clandestinidade até ser preso no Rio de Janeiro, em 1973, quando desapareceu. Sua morte só foi reconhecida oficialmente em 1996.