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Moradores da Maré (RJ) marcham por justiça a Marielle Franco e Anderson Gomes

Organizada pelos moradores do complexo de favelas, ato contou com mais de 5 mil pessoas e fez críticas à intervenção.

Fonte: Brasil de Fato

Moradores e entidades da Maré, um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro (RJ), organizaram neste domingo (18) ato para cobrar justiça pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, executados a tiros na noite da última quarta-feira (14).

Mais de cinco mil pessoas marcharam pela Linha Amarela e Avenida Brasil, na região norte da capital fluminense. De acordo com os organizadores, este será o primeiro de um conjunto de intervenções que buscará discutir o legado de Marielle Franco e o significado da atual intervenção militar para os moradores das favelas do Rio de Janeiro.

Pamela Carvalho, 25 anos, natural do Morro do Juramento e moradora da Nova Holanda, uma das 16 favelas que integram o Complexo da Maré, fez questão de pontuar que o ato deste domingo foi puxado por moradores da comunidade. "Existem várias organizações e instituições da Maré e pessoas que vieram de fora também. Mas quem pensou e está comandando o ato são os moradores das Maré. A gente está fazendo este ato para mostrar que tudo que a Marielle fez não foi em vão", destaca.

Coordenadora do Movimento Moleque, composto por pais e familiares de adolescentes que cometeram atos infracionais, e pertencente ao movimento de mães que perderam seus filhos assassinados, Mônica Cunha afirmou que o motivo de estar na marcha era o de "ecoar o que Marielle começou a fazer". 

"Aqueles que executaram a Marielle não se deram conta que levantaram várias Marielles. Hoje eu me chamo Marielle Franco. Todo mulher preta neste estado, desde a última quarta, se chama Marielle. Tudo o que ela iniciou a fazer, nós estamos aqui para dar continuidade. A voz dela não se calou. A nossa voz não vai se calar", pontuou. 

 

Segue a luta

A expectativa dos organizadores é de dar continuidade às manifestações com uma série de ações gestionadas localmente que aborde não só a importância da militância de Marielle, mas que amplie a discussão para questões crucias do dia a dia dos moradores das favelas cariocas.

Segundo a moradora Pamela Carvalho "a gente percebeu a importância de ações continuadas, de ações ligadas à educação, de agir nas escolas para mostrar quem foi a Marielle, do que significa essa intervenção militar, de como o povo da favela é tratado. Para que a gente consiga discutir permanentemente isso dentro das nossas comunidades. Este é um ato primeiro, mas a gente vai pensar outras programações ao longo da semana, do mês e do ano para ter uma discussão extensa dentro da favela sobre o que é feito com a gente", informa.

Para Mônica Cunha, discutir o legado de Marielle é falar de "uma mulher negra, lésbica, que teve filho nova, moradora de favela. Ela representava milhares de pessoas. É um legado enorme, que não dá para se calar. Não dá para a gente aceitar isso e ficar calada". Monica acredita que o atentado da última quarta é fruto de um "estado hipócrita que sempre achou que o negro tem de estar dentro de celas, de prisões ou dentro dos cemitérios. Não! A gente tem que estar dentro da Câmara, dentro da Alerj, dentro do STF, dentro de vários lugares, porque é o nosso lugar também", sentencia. 

 

Apuração

Presente ao ato, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) defendeu uma apuração profunda do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Para ele, é preciso que a investigação responda a três perguntas essenciais: "quem, por que e com que objetivo esse tipo de crueldade e covardia foi cometido".

Após solicitação protocolada pelo deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) ao Ministério da Segurança Pública e ao Ministério Público Federal (MPF), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou na última quinta-feira (15) a abertura de procedimento instrutório para analisar uma possível federalização das investigações sobre a morte da vereadora carioca e de seu motorista.

Segundo Damous, a suspeita de que agentes policiais estejam envolvidos no caso faz com que as polícias estaduais estejam impedidas de realizar uma investigação imparcial sobre o crime.