Instituto Telecom: Brasil dos humilhados
O Elity Quality é um índice que avalia a propensão das elites dos países a gerar valor para a sociedade, em vez de apenas manterem seus ganhos. Os ricos brasileiros estão na sexta pior posição, atrás da Turquia, Nigéria, África do Sul, Argentina e Egito.
Fonte: Instituto Telecom*
Esse é o título do mais novo livro do professor e escritor Jessé Souza. Livro que, de acordo com o professor Fernando Nogueira da Costa, da Unicamp, “descortina as bases elitistas do pensamento social brasileiro dominante que culpa o povo, supostamente inferior e corrupto, pelo seu próprio abandono”. Pensamento que “possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros não vêm da extraordinária concentração de riqueza, mas sim da ‘corrupção do Estado’, levando a uma falsa oposição entre Estado demonizado e mercado virtuoso.”
A interpretação da elite brasileira sobre as causas das nossas mazelas é repetida e validada todos os dias nos meios de comunicação. Reforça a suposta culpa do povo e favorece a ideia de que o Estado e a sociedade civil são incapazes de equacionar e resolver os nossos problemas. E ainda apresenta os representantes do mercado como “eficientes e eficazes”.
Não se trata de minimizar o problema da corrupção – que, aliás, só existe se houver uma conjunção de interesses de governantes e empresários –, mas, sim, de colocar em relevo o nosso maior problema: a abissal concentração de renda no Brasil.
O Elity Quality é um índice de economia política que, baseado em indicadores, avalia a propensão das elites dos países a gerar valor para a sociedade, ao invés de basear-se no parasitismo para manter seu ganho de renda. Para chegar ao ranking de 2020 foram analisados 72 indicadores em 32 países. A elite brasileira foi a sexta pior, atrás apenas da Turquia, Nigéria, África do Sul, Argentina e Egito.
Nas telecomunicações alguém esqueceu as milhares de demissões na Oi e na Serede, subsidiária da Oi, em plena pandemia? Alguém esqueceu que, em plena pandemia, o presidente da Vivo, Christian Gebara, ao justificar a negativa para o acesso gratuito à internet em comunidades de baixa renda, disse: “não é o momento de lançar nenhuma ação que possa ter um caráter competitivo”. Mentira! Qual competição, se Vivo, Claro, TIM e Oi dominam 60% do mercado de banda larga?
E a internet para os setores mais excluídos da sociedade? Foi aprovada a Lei nº 14.172, de 10 de junho de 2021, que dispõe sobre a garantia de acesso à internet a alunos e a professores da educação básica pública. O que fez o atual governo federal? Em conluio com as grandes operadoras, vetou. O veto foi derrubado no Congresso Nacional. Há cerca de R$ 3,5 bilhões para garantir acesso à internet, com fins educacionais, aos alunos e aos professores da rede pública de ensino dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, em virtude da calamidade pública decorrente da Covid-19. Temos que fiscalizar para que essa política realmente se efetive.
É preciso rediscutir a enorme concentração de renda, a gigantesca desigualdade social. Temos que redefinir um novo modelo para as telecomunicações, que cumpra o que está escrito no Marco Civil da Internet: a banda larga é um serviço essencial para todos, e não apenas para uma elite. Chega de sermos o país dos humilhados.