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Defesa da engenharia e da soberania nacional marcam posse do presidente eleito para o Crea-RJ

Assim foi a noite de posse do engenheiro Luiz Cosenza para a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro.

Texto: Camila Marins - Fisenge

Uma solenidade marcada por representatividade social e política. Assim foi a noite de posse do engenheiro Luiz Cosenza para a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro. Mais de 450 pessoas lotaram o auditório do Clube de Engenharia, entre associações de engenheiros, acadêmicos, trabalhadores de empresas, movimentos sociais, sindicatos, entidades de classe e parlamentares. O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, apontou a necessidade do Sistema Confea/Creas dar uma resposta à atual crise. “Cosenza assume um mandato em uma ocasião extremamente difícil para o país e a engenharia. Assistimos ao desmonte da economia e de empresas com mais de 60 anos de experiência com patrimônio tecnológico e administrativo acumulado e que fizeram que nossa engenharia estivesse em mais de 40 países no mundo. Hoje, temos empresas destruídas e mais de 50 mil engenheiros desempregados no Brasil”, afirmou Celestino, que ainda enfatizou: “O desafio de Consenza contará com a solidariedade irrestrita do Clube de Engenharia e trabalharemos para que o Sistema Confea/Creas dê resposta aos anseios dos profissionais e das empresas”. 

Em seu discurso de posse, Cosenza informou sobre a renovação do Sistema: “Nas eleições realizadas, os profissionais, em todo o país, deram uma demonstração de que querem mudança. Isso porque 2/3 dos presidentes eleitos assumem a presidência pela primeira vez, lembrando que alguns concorreram à reeleição. Devemos saber aproveitar todo este potencial de mudança, bem como, saber fazer a hora, pois essa hora chegou”.

Engenharia e soberania
O fechamento de estaleiros e empresas de engenharia atingiu significativamente o estado do Rio de Janeiro, estagnando a economia e o desenvolvimento social. O vice-prefeito do Rio de Janeiro, o engenheiro Fernando Mac Dowell, esteve presente na solenidade e destacou a dedicação e a liderança de Cosenza na engenharia. Já o vice-presidente do Confea [Conselho Federal de Engenharia e Agronomia], Edson Alves Delgado, pontuou que é preciso ser perspicaz sobre aquilo queremos do Sistema: “porque através das representações podemos fazer frente ao que o Brasil e a engenharia precisam para o país retomar os trilhos rumo ao progresso. O presidente da Mútua, Paulo Roberto Guimarães, enfatizou o papel da Mútua como parceira e braço social para defender a engenharia e a soberania nacional.

Frente às políticas e medidas anunciadas pelo governo federal, Cosenza afirmou posição contrária às privatizações. “Também nos oporemos com vigor em nível federal à entrega da Petrobrás, à privatização da Casa da Moeda, à possibilidade de sucateamento do Cepel e à importação pura e simples de tecnologia para o setor elétrico, assim como a privatização da Cedae e o fim da CEHAB, pois são atentados contra a soberania e independência nacional”, disse.

A eleição aconteceu no dia 15 de dezembro de 2017 e contou com processos de judicialização na eleição nacional e em alguns estados, inclusive no Rio de Janeiro. O engenheiro e presidente do Senge-RJ [Sindicato dos Engenheiros no Estado no Rio de Janeiro], Olímpio Alves dos Santos, criticou a judicialização da política e destacou a mobilização em torno da campanha de Cosenza. “Foi uma articulação por todo o estado em busca de um programa de resgate do Sistema. Estamos passando a maior crise dos últimos 4 anos e não vimos uma posição. O nosso Sistema não pode ser apenas instrumento de verificação de engenheiro em obras, mas sim de avaliação da qualidade e discussão da engenharia nacional. Não existe soberania sem engenharia”, bradou. No mesmo raciocínio, o senador Lindbergh Farias reforçou a resistência das entidades na defesa da soberania nacional. “Getúlio Vargas criou a Petrobras e o chamado BNDE [hoje BNDES]. Atualmente, existe uma política de desmonte desses órgãos. A Petrobras investia 1,9% do PIB no Rio de Janeiro e, hoje, apenas 0,8%. Fizemos uma exitosa política de conteúdo local, fortalecendo as empresas nacionais e a engenharia brasileira e destruíram nossos estaleiros. Cosenza assume em um momento decisivo, pois tenho a certeza de que não existe recuperação sem investimento em engenharia nacional”, destacou o senador. 

Também presente na cerimônia, o engenheiro e presidente da Fisenge [Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros], Clovis Nascimento lembrou do papel da engenharia nacional na recuperação da economia. “Investir em engenharia significa defender a soberania do nosso país. Quando temos uma engenharia forte, temos geração de empregos, empresas competitivas e desenvolvimento social. Vivemos o boom da engenharia com os investimentos na empresas nacionais, principalmente na Petrobras, entre os anos de 2003 e 2015. Hoje, milhares de engenheiros estão desempregados, acompanhados por um retrocesso social e político semelhante à década de 90, quando engenheiros faziam de tudo, menos engenharia. Nós vamos lutar juntos e fortalecer essa frente de resistência em defesa da engenharia e da soberania nacional”, disse. 

Engenheiros estrangeiros
Sobre a possível facilitação da entrada de engenheiros estrangeiros no Brasil, Cosenza demonstrou preocupação: “Estamos acompanhando de perto a invasão de profissionais estrangeiros ao mercado brasileiro com a venda de empresas brasileiras aos coreanos, chineses, americanos e europeus. É urgente que façamos a defesa de nossas empresas para não condenarmos muitos de nossos profissionais ao desemprego ou ao subemprego aviltante”. Ele ainda acrescentou que esta ameaça é concreta, pois há um projeto de lei que prevê a concessão do registro aos profissionais estrangeiros em apenas três meses. “Diante desta realidade perversa, nós do sistema Confea/Creas devemos protagonizar uma grande campanha em defesa da engenharia e da soberania nacional impedindo a aprovação dessa medida”, propôs.

Gestão participativa
Durante a cerimônia, um vídeo de congratulações foi exibido e a mensagem uníssona era de comprometimento com uma gestão transparente, desburocratizada e participativa. O presidente da Associação dos Servidores do Crea-RJ (Ascrea-RJ), Fernando Mendes Neto, afirmou que o novo Crea estimula os trabalhadores. “Em quase 40 anos de trabalho, vi a maioria de trabalhadores adoecerem e também se transformarem. O novo Crea nos estimula, mas não podemos ficar de braços cruzados. Precisamos olhar o hoje, ver o futuro e esquecer os erros do passado”, contou. O presidente eleito, Luiz Cosenza afiançou seus compromissos com os trabalhadores do Crea-RJ. “Queremos consolidar os compromissos assumidos com as funcionárias e os funcionários e reafirmar nossos propósitos de manutenção do diálogo e de uma gestão transparente”. 

Ensino da engenharia
A crise que atravessa o estado atingiu diretamente a Universidade Estadual do Rio de Janeiro [UERJ], que passa por um processo de desmonte com falta de pagamento de salários de servidores, descumprimento de contratos e falta de repasse de recursos públicos. A vice-reitora UERJ, a engenheira Georgina Muniz Washington, afirmou que, embora a UERJ passe por uma crise nunca antes vista, a instituição é uma universidade socialmente referenciada e inclusiva. “O que estão fazendo com a universidade não é um acaso. É um projeto. Precisamos estar juntos. Querem acabar com a UERJ, a UEZO e a UENF. O que está sendo feito com a UERJ é só um ensaio. O futuro desse país passa pela soberania. Não há país que se sustente sem engenharia. Não é luta apenas por universidade, é uma luta pela soberania nacional”, concluiu. 
Já o reitor do IFF [Instituto Federal Fluminense], o engenheiro Jefferson Manhães de Azevedo recordou a importância da expansão da rede federal, a partir de 2003, com instalação de institutos em todo o país. “Só foi possível, porque foi construído um conceito de nação alargado e de carreira tecnológica com alta densidade. Os profissionais que dominam a tecnologia precisam estar conscientes do seu tempo histórico e dar consequência social para transformar. Estão querendo nos convencer de que a inteligência brasileira é menor que a inteligência internacional. Estaremos ao lado da defesa da universidade pública. É possível transformar o Brasil com ética e para todos”, declarou.