Calamidade pública são os governos e a 'Era PMDB'
Deputado federal Chico Alencar avalia impactos nacionais da situação do Rio de Janeiro
Os representantes do governo do Rio de Janeiro mostram um quadro de dificuldades financeiras, não tão diferente dos outros estados da federação, mas aproveitam a Olimpíada para pressionar e pedir verba. “A Olimpíada é um grande negócio internacional e é natural que digam que vai acontecer seja como for. Mas o governo não previu, por exemplo, que os recursos de royalties (referentes a petróleo) e participações especiais, que eram de R$ 8,7 bilhões de arrecadação em 2014, em 2015 caíssem para R$ 5,7 bilhões, com a queda do preço do petróleo”, diz o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ). "A calamidade pública do Rio de Janeiro são os governos e esta era do PMDB."
Na sexta-feira (17), o governador em exercício, Francisco Dornelles, decretou estado de calamidade pública, a 49 dias do início dos Jogos Olímpicos.
Para Chico Alencar, o quadro do Rio não é tão diferente das outras unidades da federação, mas a Olimpíada muda o cenário. “Aproveitam o evento internacional, que interessa à dinâmica capitalista do mundo. É uma jogada, na verdade, que vai fazer com que todos os estados queiram que a União resolva sua situação. Isso se choca frontalmente com a ortodoxia radical que a nova equipe econômica do governo (Temer) interino professa. É muita contradição.”
Em reunião do presidente interino, Michel Temer, com governadores em Brasília, hoje (20), o vice-governador da Bahia, João Leão, afirmou: “O Rio de Janeiro puxou o cordão ao decretar estado de calamidade para suas contas e dar início a um acordo. É justo que todos os outros estados, nitidamente em situação financeira difícil, sejam ouvidos também.”
Pelo Twitter, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), disse, no dia em que Dornelles decretou estado de calamidade, que a situação em nada atrasa as "entregas olímpicas" e os compromissos assumidos. "Temos a certeza que a parceria com o governo federal funcionará", disse.
Para Alencar, essa é outra contradição. "O que não pode é ter recurso pra isso enquanto faltam para áreas sociais. Estamos pagando pela Copa do Mundo até agora, e já vão chegar as promissórias da Olimpíada", ironiza. "Existiram obras faraônicas, superfaturadas, com aditivos contratuais, como é o caso do Maracanã (cujas obras são estimadas em R$ 1,2 bilhão). É uma inversão de prioridades. Querem aproveitar a questão dos jogos para reforçar a ideia de que o Rio precisa ser bancado por recursos da União. Com os olhos do mundo voltados para os Jogos e tudo contratado, aproveitam para pressionar e pedir verba", afirma.
A Anistia Internacional manifestou preocupação com o fato de que o governo estadual estaria autorizando a “racionalização” dos serviços públicos essenciais para a realização dos Jogos Olímpicos. “Grandes eventos esportivos não podem acontecer às custas de supressão de direitos. O decreto publicado abre espaço para restrições no fornecimento de serviços públicos que podem agravar, ainda mais, áreas como saúde e segurança pública”, disse Átila Roque, diretor executivo da entidade no país, em nota divulgada na última sexta (17).