Atuação da mídia na prisão de Lula teve a intenção de manipular a opinião pública
Grandes empresas de comunicação atuaram politicamente contra Lula, avalia Renata Mielli, do FNDC.
(Foto: REPRODUÇÃO/FNDC)
Fonte: Brasil de Fato
A atuação de boa parte da imprensa brasileira impondo uma narrativa massificada anti-Lula foi o principal combustível da mobilização das forças antidemocráticas na prisão do ex-presidente Lula na noite deste sábado (7). O resultado está refletido nas capas dos jornais deste domingo (8).
"O papel dos grandes meios de comunicação privado no Brasil é bem claro há alguns anos. E nos últimos dois anos foi explícito. Eles atuaram politicamente utilizando o poder de manipulação da informação para construir uma opinião pública favorável a prisão do ex-presidente Lula”, disse Renata Mielli, coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), em entrevista para Rádio Brasil de Fato.
A construção dessa manipulação, de acordo com Renata, se deu em torno de uma mensagem na qual os treze anos de governo de esquerda no Brasil foram o período de maior corrupção no país. O objetivo era atingir o maior símbolo dessa esquerda, do PT, que é o Lula.
"Como ele mesmo disse no discurso, o Lula é mais que uma pessoa é uma ideia. E as ideias dele, as palavras, que ele sempre levou para o povo mais pobre do Brasil se espalharam pelo país. O processo de condenação e prisão do Lula é mais que o processo e a prisão de uma pessoa, que é o maior líder político, é um processo para matar as ideias que o Lula representa", disse.
Dentro deste objetivo de gerar uma opinião pública contrária ao Lula, os meios de comunicação ansiaram pela imagem fragilizado do ex-presidente sendo preso. Para ter a desumanização e destruir o mito. "Mas eles não conseguiram essa imagem. Desde que o pedido de prisão foi emitido, as empresas de comunicação tentaram minimizar a reação popular e os desdobramentos a favor de Lula.
"As manifestações de 3 de abril, da direita a favor da prisão do Lula, houve convocação para esses atos nas capas dos principais jornais, tá lá como informe publicitário pago, e eles até podem ter pago, mas é o jornal que decide que tipo de publicidade paga ele vai veicular ou não", disse.
Mesmo com este apoio institucionalizado dos meios de comunicação, os atos da direita não foram grandes. "E teve até denúncias de empresas que estavam pagando funcionário para irem aos atos. Isso porque eles precisavam daquela fotografia, de pessoas apoiando a prisão. Por outro lado, tentaram esconder a todo custo o apoio ao presidente Lula, mas foi impossível", disse.
Até mesmo quando não é possível esconder a cobertura, a mídia buscou uma forma de manipulação da opinião pública. "Cheguei a ler que eram apoiadores 'transtornados', então eles adjetivaram todos que estavam ali dando apoio e solidariedade com o objetivo de criminalizar e tirar a credibilidade daquelas pessoas. Esse foi o papel da mídia", comentou.
A partir do golpe de 2016, aumentou também os protestos de repúdio à Rede Globo, por conta da sua atuação nos bastidores e na inflamação do golpe contra o governo Dilma.
"A Globo é a líder deste consórcio, pelo poder econômico que ela tem, pela penetração em todo país. Ela se formou com o apoio dos militares. Por isso, as palavras de ordem nas manifestações contra a Globo e esse monopólio. Só que a Globo é uma emissora que toma mais cuidado em determinados momentos. Nessa última semana, especificamente, a Band foi muito mais raivosa e agressiva do que o jornalismo da Globo, que tentou, em alguns momentos, mostrar alguma sobriedade, veja que não estou falando em imparcialidade, ela apenas passou a atacar menos, adjetivar menos. Por que a Globo faz isso? Porque como ela é a líder, ela é quem tem mais a perder. Uma parcela grande da sociedade já começa a perceber que esses meios de comunicação todos, com a Globo como líder, não são imparciais, não são neutros e estão advogando em defesa de seus interesses", disse.