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A matemática desigual no Dia das Mães

Engenheira Eugênia fala sobre as dificuldades enfrentadas na faculdade e no mercado

"Eugênia, você foi aprovada! Passou para engenharia". Foi minha mãe que anunciou a minha aprovação no curso de engenharia civil há exatos 20 anos. Fui a única filha a se formar no ensino superior, enquanto minha mãe, viúva e nordestina, trabalhava como doméstica em casa de família. Lembro-me de que ela chorou e fez um bolo para comemorar. Minha mãe poderia ter sido engenheira, porque fazia muita matemática para sustentar nossa casa. Decidi fazer engenharia civil, porque percebi a importância de uma cidade inclusiva com a mobilidade urbana necessária, especialmente para nós, mulheres. Uma cidade com transporte público de qualidade, com iluminação, moradia digna, saneamento e outras políticas públicas essenciais ao ser humano.

Os primeiros passos na universidade não foram fáceis. Éramos apenas três mulheres entre 40 homens em sala de aula. Piadinhas e insinuações sexuais eram comuns, principalmente quando tirávamos as melhores notas. "Tirou 10, Eugênia? Mas é claro que o professor vai te privilegiar. Você é mulher". Nesse momento, comecei a me organizar no Centro Acadêmico e a promover debates sobre gênero. Fui eleita presidente do Centro.

Depois de formada, chegou a vez de enfrentar o machismo no mercado de trabalho. Participei de inúmeras entrevistas de emprego e eu era a única mulher competindo com 20 homens. Quando passei para o meu atual emprego entre 57 candidatos, um deles me perguntou: "Fez o quê para entrar?". A minha indignação só aumentava, quando resolvi procurar o Sindicato dos Engenheiros e participar das atividades e assembleias. Ali, descobri que poderia lutar por igualdade nas negociações coletivas, formulando cláusulas específicas de gênero, além de promover ações de afirmação dentro da empresa.

Hoje, no Brasil, as mulheres ocupam apenas 9,2% das cadeiras na Câmara dos Deputados, 8,6% no Senado e 7,4% nos governos estaduais. Esta é uma matemática injusta num país, onde as mulheres representam 51,5% da população.  Aprendi que nós, mulheres, somos sujeitos transformadores dessa realidade machista, homofóbica e racista. Nossas conquistas são fruto de muita luta e devemos avançar cada vez mais nos espaços de poder e lutar por mudanças estruturais como a reforma política e a democratização da comunicação. Por isso, seguiremos firmes com nossa campanha contra o assédio moral e pela ocupação dos espaços de poder por mulheres.