Soberania em Debate inicia o IV SOS Brasil Soberano, em Curitiba
Encontro recebeu o jornalista Rogério Galindo, o economista e professor Nilson Maciel de Paula, e a historiadora e também professora Kátia Baggio
A profunda crise que o Brasil vive e as recentes aprovação da Reforma Trabalhista pelo Senado e a condenação do ex-presidente Lula na Operação Lava-Jato. Esses foram os principais temas abordados pelos participantes do Soberania em Debate, roda de conversas que inicia o simpósio SOS Brasil Soberano. Nesta edição, realizada no dia 13 de julho, a jornalista da Fisenge, Camila Marins, recebeu o jornalista Rogério Galindo, o economista e professor Nilson Maciel de Paula, e a historiadora e também professora Kátia Baggio.
“O que estamos vendo é o desmonte do estado como rede de proteção em momentos de crise. Isso está sendo falado abertamente. Usar a receita do estado mínimo como a forma para o país voltar a crescer. O Brasil não é o único país do mundo a passar por uma crise, mas precisa entender que as bases democráticas não podem ser destruídas. E foi justamente isso que aconteceu com o golpe”, afirmou o economista Nilson Maciel de Paula.
O impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, trouxe instabilidade na política e na economia. O ilegítimo Michel Temer, atendendo às demandas do mercado financeiro, vem aprovando “reformas” que aumentarão a desigualdade, a pobreza e o desemprego. É o que mostram os estudos realizados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“Há um engodo embutido nisso no caminho que a politica econômica está indo para superar a crise a complexidade da crise envolve outros aspectos: sociedade esgarçada, fragmentada, que está indo na direção do empobrecimento”, lamenta o economista.
Financiadores do golpe
A historiadora Kátia Baggio apresentou os dados de sua pesquisa que revelam o financiamento de grupos neoliberais brasileiros, como o Estudantes Pela Liberdade e o Movimento Brasil Livre, por entidades americanas. Uma delas, a Atlas Networking, possui mais de 460 organizações parceiras em mais de 90 países. Destas, 12 estão no Brasil. Segundo Baggio, essas entidades tiveram forte atuação no processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
“Entre 2012 e 2016, a receita do Estudantes Pela Liberdade cresceu mais de 10 vezes. Para mim, é muito evidente que esses recursos foram usados para criar formar grupos liberais como também para sustentar os protestos pro impeachment, porque o MBL tem um laço estreito com a Atlas e com a Students For Liberty. Há uma grande articulação do capital financeiro que banca estas instituições e que fortalecem essas organizações para desestabilizar governos que defendem o estado de bem-estar”, critica a historiadora.
“Não tenho dúvidas de que esse golpe tem relação com os projetos dos governos Lula e Dilma em relação aos BRICS, ao comércio na Ásia, na relação Sul-Sul. Foram fatores que incomodaram outros países. Ainda não conseguimos mapear completamente isso, mas eu como historiadora acredito que muito dos que nós vivemos nos últimos anos serão revelados.”
O economista Nilson Maciel de Paula (Foto: Katarine Flor)
Perspectivas de futuro
Com críticas contundentes à política escolhida pelo governo ilegítimo de Michel Temer com a justificativa de tentar superar a crise, os participantes do Soberania em Debate afirmaram unânimes que a saída para a crise é buscar um caminho de país soberano.
“Precisamos nos encontrar na ideia de um projeto de nação, que não é só econômico. Parece que esquecemos que além dos números do PIB, câmbio, taxa de juros, a gente tem a Amazônia, o Nordeste, mais de 8 milhões de km² de extensão territorial. Temos muitas outras coisas e o Brasil não é um negócio, um número. O Brasil são pessoas, uma nação, uma comunidade”, criticou o jornalista Rogério Galindo.
“O Brasil precisa recuperar uma geopolítica que estabeleça parc erias e se aproxime de países com os quais possa haver cooperação. Não se trata apenas de criar mercado, mas de criar um arranjo contra-hegemônico, como o BRICS. Ao se concentrar em uma relação com as economias centrais, estaremos participando muito mais com uma submissão em uma agenda já estabelecida, porque esses países são protecionistas estrategicamente. Precisamos fazer politica externa não apenas para sermos obedientes de uma receita do terreno homogêneo, com a ideia de que todos nós estamos na mesma posição para competir. Os chineses não chegaram onde chegaram fazendo livre-comércio. O Brasil precisa fazer esse ajuste. Não fazemos politica econômica guiada apenas pela austeridade”, defendeu Nilson Maciel.
O jornalista Rogério Galindo e a historiadora Kátia Baggio (Foto: Katarine Flor)