Sindicatos e SBPC criticam flexibilização das restrições sanitárias em carta à Prefeitura
Sinmed-RJ, Senge RJ e outras nove entidades escreveram a Eduardo Paes alertando para o crescimento dos casos de covid-19, devido à variante Delta do coronavírus.
O Sindicato dos Médicos no Rio de Janeiro (Sinmed-RJ) e outras 11 entidades, entre elas o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, Regional RJ), enviaram uma carta ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, criticando o anúncio de uma agenda de flexibilização das medidas de restrição sanitária na cidade. De acordo com o presidente do Sindmed-RJ, Alexandre Telles, a variante Delta do coronavírus está provocando a aceleração da transmissão e do número de casos, e não permite a suspensão dos cuidados.
“Em 3 de agosto de 2021 a letalidade por covid-19 (7,62%) é superior às taxas dos municipios de Manaus (4,72%) e São Paulo (3,92%), segundo informações do Monitora Covid-19 da Fiocruz”, afirma a Carta ao Prefeito do Rio de Janeiro sobre o Retorno Pleno de Atividades Não Estratégicas. “Os parâmetros epidemiológicos atuais desautorizam a fixação de datas comemorativas de fim da pandemia, realização de grandes eventos e reabertura de boates. O enfrentamento da covid-19 não se reduz à vacinação, porque os imunizantes que dispomos não bloqueiam a transmissão. O comitê científico nomeado oficialmente detém expertise para a elaboração de um plano embasado em evidências do conhecimento disponível.”
Em coletiva nesta sexta-feira (6), o prefeito afirmou que não quis dizer que a pandemia está sob controle, em suas declarações sobre as comemorações da reabertura. Em decreto (nº 49.240) publicado nesta sexta-feira (6), a Prefeitura prorrogou até dia 23 as medidas restritivas no município.
O dirigente do Sindmed-RJ informa que as entidades vão continuar monitorando o andamento das medidas e do contexto epidemiológico.
Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil
Carta ao Prefeito do Rio de Janeiro sobre o Retorno Pleno de Atividades Não Estratégicas
Ilmo Prefeito do Municipio do Rio de Janeiro
A cidade em que vivemos foi extremamente penalizada pela pandemia do novo coronavírus e suas repercussões econômicas e sociais. O municipio ocupa trágicos primeiros lugares nos rankings de letalidade nacionais e internacionais. Em 03 de agosto de 2021 a letalidade por covid-19 (7,62%) é superior as taxas dos municipios de Manaus (4,72%) e São Paulo (3,92%), segundo informações do Monitora Covid-19 da Fiocruz. Após um ano e oito meses do início das medidas restritivas e coberturas vacinais que presumivelmente serão aceleradas em agosto o planejamento de ações para o retorno de movimentos de circulação na cidade é oportuno e relevante. Um planejamento baseado no contexto epidemiológico e nas condições concretas de vida e trabalho contribui para estabelecer pontes entre as necessidades de saúde e as pressões econômicas.
É imprescindível considerar os riscos objetivos envolvidos com o aumento da transmissão da covid-19. As atuais vacinas conferem proteção contra óbitos, no entanto, padrões de transmissão já elevados, podem se agravar em função de variantes do vírus associados ao aumento de casos da doença que requerem redes assistenciais para a prevenção e atenção a pacientes com quadros agudos e crônicos. O Rio de Janeiro que teve sua rede básica reduzida e hospitais sucateados na gestão anterior ainda não recuperou a capacidade instalada para o atendimento adequado à população. Aumento de casos e UPA´s lotadas de pacientes à espera de leitos podem ocorrer mesmo em um cenário de imunização populacional favorável. Situações de recrudescimento de casos ocorreram em países com altas coberturas vacinais, que voltaram atrás nas políticas de flexibilização das restrições.
Para assegurar que vidas sejam poupadas e evitar a ocorrência de doenças por covid-19 que deixam sequelas, o plano de retorno dever se balizar fundamentalmente pela taxa de transmissão. A testagem populacional e a divulgação dos dados dos resultados sobre casos sintomáticos, assintomáticos é uma estratégia essencial bem como a exigência do uso e a distribuição gratuita de máscaras PFF-2. A supressão de doenças não ocorre por decreto. Os parâmetros epidemiológicos atuais desautorizam a fixação de datas comemorativas de fim da pandemia, realização de grandes eventos e reabertura de boates. O enfrentamento da covid-19 não se reduz à vacinação porque os imunizantes que dispomos não bloqueiam a transmissão. O comitê científico nomeado oficialmente detém expertise para a elaboração de um plano embasado em evidências do conhecimento disponível. Mais flexibilizações em uma cidade na qual circulam transportes coletivos lotados e pessoas sem e ou uso inadequado de máscaras e onde seguimos sem testagem para rastreamento e vigilância genômica precária são medidas que não conduzem à saída da crise.
Associação de Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Núcleo Carioca
Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde do Município do Rio de Janeiro
Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Rio de Janeiro
Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro
Sindicato dos Farmacêuticos do Estado do Rio de Janeiro
Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro
Sindicato dos Trabalhadores em Combate as Endemias e Saúde Preventiva no Estado do Rio de Janeiro
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Regional Rio de Janeiro