Quase metade dos jovens ocupados com nível superior está em postos de trabalho de menor qualificação
Estudo do Ipea aponta, ainda, que subocupação já atinge 7 milhões de trabalhadores no país
Foto: Marcos Santos/USP
Nos últimos quatro anos, o total de jovens entre 24 e 35 anos com nível superior em funções incompatíveis com a sua escolaridade subiu 6,1 pontos percentuais, chegando a 44,2%. Considerando-se o total de trabalhadores com curso superior, este índice é de 38% - o maior patamar desde o início da série. É o que mostra uma análise sobre o mercado de trabalho no Brasil divulgado na quarta-feira (12), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A Nota Técnica, intitulada “A evolução da população ocupada com nível superior no mercado de trabalho”, acompanha a seção Mercado de Trabalho, da equipe de Conjuntura do Ipea.
“Não é um fenômeno novo”, explica uma das autoras do estudo e pesquisadora do Ipea, Maria Andreia Lameiras. “Com a crise e a população mais escolarizada, as pessoas acabaram aceitando um emprego abaixo da sua qualificação com medo do desemprego.”
Para a diretora de relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, além da crise que perdura desde 2014, há uma mudança preocupante no perfil no mercado de trabalho. “Com a aprovação da lei da terceirização e da reforma trabalhista, há uma precarização muito maior. Nos empregos de maior qualidade, as pessoas são demitidas e readmitidas em empresas terceirizadas ou como pessoa jurídica, com salários menores. Os mais afetados são a juventude e as mulheres. Estamos tendo uma transferência do emprego formal, com todos os direitos garantidos, para outro tipo de emprego”. Por exemplo, diz ela, em novos modelos de contrato, como os que preveem trabalho intermitente, trazidos pela reforma trabalhista.
A seção Mercado de Trabalho do Ipea mostra que, apesar da taxa de desocupação ter caído no trimestre móvel encerrado em outubro, ficando em 11,7%, houve um aumento no número de pessoas subocupadas – aquelas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais horas –, alcançando quase 7 milhões de trabalhadores. Isso corresponde a um crescimento de 10,4% na comparação interanual. Para os que procuram trabalho, a situação ainda continua difícil: de cada quatro desempregados, um está à procura de recolocação há mais de dois anos. O Brasil atualmente possui 12,7 milhões de desempregados.
O estudo ainda destaca que, em contrapartida, houve geração de mais de 790 mil novas vagas com carteira assinada em 2018, segundo os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. “Há uma recuperação moderada do mercado de trabalho no Brasil, mas com a informalidade ainda alta e com um aumento na população subocupada”, analisa Lameiras.
A pesquisa também faz uma avaliação detalhada da dinâmica recente do mercado de trabalho brasileiro em tópicos como emprego setorial, rendimentos, desalento e grau de formalidade. As informações são apresentadas por faixa etária, sexo, região, grau de instrução e tipo de vínculo. Além das informações do Caged, o estudo utiliza diversas fontes para a análise, dentre elas os dados da PNAD Contínua (IBGE).
Fonte: IPEA e Jornal da CUT