O lado suburbano da disputa pela água
Moradores criticam obras da Cedae na Baía de Guanabara
Fonte: Coletivo Memória Latina
No início do mês de dezembro de 2013, as intensas chuvas que caíram na cidade do Rio de Janeiro foram mais uma vez um tormento para os moradores e moradoras dos bairros de Vigário Geral e Jardim América. O alto volume das chuvas provocou o caos em 13 bairros da zona norte. Os seis rios que cortam a região (Acari, Cachorros, Pavuna-Meriti, Irajá, Botas e Sarapuí) não suportaram a quantidade de água e lixo e transbordaram, causando alagamentos, inundações e assoreamento.
Porém, de acordo com denúncia feita por Fábio Martins, morador de Vigário Geral há 15 anos, as inundações são corriqueiras na comunidade. “É um bairro esquecido pelo poder público, seja a prefeitura ou o governo do Estado. Principalmente nessa época de verão quando a temperatura sobe e aumentam as chuvas. Os casos de inundação são constantes há muito tempo. São ruas alagadas, casas invadidas pela água e as pessoas ficam impossibilitadas de sair de casa. Aí começam os casos de doença, de dengue por causa da chuva e da falta de saneamento básico.”
As críticas dos moradores vão além da falta de acesso aos direitos básicos. À falta de saneamento, que influencia nos casos de inundação, soma-se o mau planejamento das obras da Cedae na comunidade. “Uma obra foi feita aqui no ano passado de péssima qualidade. As tampas foram feitas de cimento e já tá quebrando tudo. Foi uma obra de qualquer jeito. A rua foi asfaltada novamente, mas não foi nivelada. Então, se uma pessoa idosa ou uma grávida, uma mãe com uma criança no colo tiver passando, corre o risco de sofrer um acidente”, completou Fábio.
As obras realizadas pela Cedae em Vigário Geral, em 2013 fazem parte das melhorias previstas pelo Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), projeto do governo Estado com o financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O projeto surgiu na época da ECO 92, Conferência da ONU realizada na cidade em 1992, e abarcou a obra da estação de esgoto construída pela Cedae em 1980. O projeto, contudo, ficou parado por dez anos, voltando a ser firmado durante o encontro dos chefes de Estado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a RIO + 20, ocorrida no Aterro do Flamengo em junho de 2012.
“Só na área de Vigário Geral e Jardim América são mais de R$ 200 milhões gastos em obras de saneamento básico do PDBG. Nós achamos que se houvesse democracia, se tivesse discussão popular, assembleias, audiências públicas para conversar com os moradores e moradoras, talvez não tivesse esse gasto todo de dinheiro público, talvez não tivesse essas tragédias nos bairros da zona norte”, falou João Ricardo Serafim, da Associação de Moradores de Vigário Geral, acrescentando ainda que a luta dos bairros suburbanos já beira os 30 anos.