MST pede punição a morte de sem-terras no Paraná
Advogados denunciam intervenções da PM na cena do crime e impedimento do acesso
Acampamento Dom Tomás Balduíno, no Paraná, em 2015 | Foto: Joka Madruga
Após a morte de dois sem-terra na tarde desta quinta-feira (7), no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pede a investigação e a punição dos responsáveis pelo crime. De acordo com o Movimento, seguranças e jagunços da madeireira Araupel participaram da ação, junto com a Polícia Militar (PM). A empresa alega ser proprietária da área ocupada pelos sem-terra; no entanto, a Justiça Federal reconheceu que o terreno pertence à União.
As vítimas, Vilmar Bordim (44) e Leonir Orback (25), eram militantes do MST e trabalhavam na organização do acampamento. Vilmar era casado e pai de três filhos, e Leomar deixou esposa grávida de nove meses.
Em nota, a direção estadual do MST descreve a situação da seguinte maneira: “A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela Justiça, quando foram surpreendidos pelos policiais e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veículo onde se encontravam os Sem Terra”.
De acordo com o advogado da comarca de Quedas do Iguaçu, Claudemir Torrente, que acompanhou de perto a situação, “as vítimas foram baleados pelas costas, o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com os policiais”.
Além das mortes, a emboscada – que teria sido organizada pela PM, segundo o MST –, deixou pelo menos sete sem-terra feridos. Nenhum policial apresentou ferimentos.
A área do acontecimento foi isolado pela PM, impedindo a aproximação de familiares das vítimas, advogados e imprensa, por aproximadamente duas horas. Há denúncias de advogados presentes no local de que os policiais removeram os corpos e objetos da cena do crime, sem a presença do Instituto Médico Legal (IML).
Os feridos foram socorridos duas horas após o ataque e levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a dois hospitais da região, acompanhados de uma viatura da equipe de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam).
De acordo com Elcir Zen, advogado que assessora o MST na região de Cascavel, a polícia também impediu o acesso de familiares e advogados às vitimas no hospital. “A ordem dos coronéis era a de que nenhum dos advogados poderia conversar com os feridos. Além de mim – advogado da família de Henrique Gustavo Souza Prati –, havia outras dezenas de advogados voluntários do Centro de Direitos Humanos de Cascavel. Após termos sido vencidos pelo cansaço, a polícia levou escrivães para tentar escutar as vítimas durante a madrugada, sem a nossa presença”, afirma Zen.
Em vídeo gravado pelo advogado, dentro do Hospital Universitário de Cascavel, Henrique tranquiliza a família: “Levei um tiro na perna, e amanhã de manhã [sexta-feira] saio de cirurgia. Pretendo o mais rápido possível voltar para casa”.
Tensão
As mortes refletem um clima de tensão proliferado na região por lideranças políticas, de segurança pública e pela mídia local, desde a instalação de dois acampamentos do MST em terras de domínio da União, mas que a empresa Araupel alega ser proprietária . Outras denúncias sobre ameaças de morte sofridas por lideranças do Movimento já haviam sido notificadas ao Ministério Público a à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), no ano passado.
Em virtude do conflito, no dia 1o de abril, o chefe da Casa Civil do governo do Paraná, Valdir Rossoni se reuniu com o secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita, em Quedas do Iguaçu. No encontro, também estavam o subcomandante da Policia Militar do Paraná, coronel Arildo Luiz Dias, o delegado geral da Polícia Civil, Julio Reis, e o delegado de policiamento do interior, Valmir Soccio, entre outros representantes da cúpula da polícia panaense.
Segundo matéria divulgada pela Agência Estadual de Notícias, no mesmo dia, o grupo anunciou “reforço nas ações policiais e a ampliação da fiscalização de órgãos estaduais em Quedas do Iguaçu e região”.
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Veja a íntegra da nota publicada pelo MST:
Policia Militar e pistoleiros atacam famílias Sem Terra e assassinam dois trabalhadores do MST, no Paraná
Na tarde de quinta-feira (07 de abril), famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno, no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, foram vitimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar do Estado e por seguranças contratados pela empresa Araupel. No ataque covarde da PM e seguranças da Araupel, foram assassinados os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos e Leonir Orback de 25 anos, deixa esposa gravida de nove meses. Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois foram detidos para depor e já foram liberados.
O acampamento, cuja ocupação teve início em maio de 2015, possui aproximadamente 1,5 mil famílias O acampamento está localizado no imóvel Rio das Cobras que foi grilado pela empresa Araupel. A Justiça Federal declarou, em função da grilagem, que as terras são publicas e pertencem a União e devem ser destinados para a reforma agrária.
Não houve confronto algum segundo o relato das vítimas do ataque. A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete e motocicleta, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policias e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, que para se proteger, correram mato a dentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. Em relato a PM admite que os dois corpos foram recolhidos de dentro da mata. Todas as vítimas foram baleadas pelas costas o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças.
A PM isolou local onde ocorreu a emboscada por mais de duas horas, impedindo o socorro dos feridos, além de bloquear qualquer outra pessoa que se aproximasse para socorrer e documentar a cena do crime. Sem a presença do IML removeram as vítimas e objetos da cena do crime. E nem permitiram acesso dos familiares das vitimas, advogados e imprensa, ameaçando as pessoas que se aproximavam.
A Policia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomando as ruas, cercando a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, impedindo qualquer contato das vitimas com familiares, advogados e imprensa.
O ataque da PM aos Sem Terra aconteceu após o Deputado Rossoni assumir a Chefia da Casa Civil do Governo do Paraná e, que, coincidentemente, esteve em visita ao Município de Quedas do Iguaçu, no dia 01 de abril de 2016, acompanhado do Secretario de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, e representantes das cúpulas da policia do Paraná. Que determinaram o envio de um contingente de mais de 60 PMs para Quedas do Iguaçu.
O MST está na região há quase 20 anos, e sempre atuou de forma organizada e pacifica para que houvesse o avanço da reforma agrária, reivindicando que a terra cumpra a sua função social. Só no grande latifundiário da Araupel foram assentadas mais de 3 mil famílias.
O MST exige justiça e:
- Imediata investigação, prisão dos policias e seguranças, e punição de todos os responsáveis – executores e mandantes- pelo crime cometido contra os trabalhadores rurais Sem Terra.
- O afastamento imediato da policia militar e a retirada da segurança privada contratada pela Araupel.
- Garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores acampados do Movimento na região.
- Que todas as áreas griladas pela empresa Araupel sejam destinadas para Reforma Agrária, assentando as famílias acampadas.
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular! Direção Estadual do MST.