Cut redim 40

Evento nesta quinta (11), às 18h, marca início das celebrações dos 40 anos da CUT

A cerimônia será transmitida online, e terá a participação do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ex-dirigente da central, e do seu atual presidente, Sérgio Nobre, entre outros convidados do movimento sindical.

Fonte: Rosely Rocha e André Accarini/CUT
Foto: Roberto Parizotii (Sapão)

A CUT realiza nesta quinta-feira (11), às 18h, o evento de lançamento das celebrações dos 40 anos da entidade, que se completam oficialmente em 28 de agosto, mas que se estenderão até o final do ano. A marca criada para o aniversário será apresentada durante a cerimônia desta quinta, que poderá ser acompanhada ao vivo pelo Facebook ou pelo YouTube. Terá a presença do presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, de dirigentes nacionais e ex-presidentes da central, entre eles o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho. 

Sérgio Nobre destaca que os 40 anos da CUT coincidem com o ano do 14º Congresso Nacional da Central, o que, segundo ele, torna ainda mais relevante a comemoração do aniversário e de tudo que a trajetória da central representa para a classe trabalhadora, para o movimento sindical nacional e mundial e para o país. “A classe trabalhadora conquistou a sua maior vitória recentemente, o que nos dá ainda mais motivos para celebrar. Mas os desafios ainda são enormes, para recuperar tudo que nos foi tirado desde 2016 e para avançar e conquistar ainda mais direitos”, afirma.

Passado e futuro 
Quem esteve à frente da CUT sabe muito bem como foi o início da organização sob as botas dos militares, que reprimiram com violência as manifestações dos sindicatos e seus trabalhadores e trabalhadoras. Uma dessas testemunhas da história de resistência é o atual ministro Luiz Marinho, ex-presidente da CUT que vivenciou a luta vitoriosa da organização sindical. Para Marinho, é preciso ter consciência de que o acúmulo de experiência adquirida nesses anos coloca a obrigação de pensar o futuro, valorizando o passado e a memória daqueles e daquelas que lutaram. “Somos os herdeiros do futuro, daqueles que lutaram e perderam a vida no passado, se sacrificaram, fizeram greves, perderam horas de trabalho e de sono muitas vezes até o emprego”, ressalta.  

O ministro do Trabalho e Emprego diz que agora é o momento de olhar para o futuro, e que a CUT, junto a todo o movimento sindical, tem a grande responsabilidade de representar as inovações, com condições de pensar novas formas de trabalho. “Pensar no futuro é combater a desigualdade, o preconceito, assédios sexuais e morais no ambiente de trabalho. É dizer que os empregadores têm que praticar salários iguais para homens e mulheres.” 

Desafios
O desafio de um novo mundo do trabalho, segundo Ariovaldo de Camargo, secretário de Administração e Finanças da CUT Nacional, é se reinventar e se reorganizar. Ele lembra que, com o golpe de 2016, que retirou Dilma Rousseff da Presidência da República e impôs a Reforma Trabalhista, em 2017, os sindicatos enfrentaram um contexto de fragilização, para o qual não estavam preparados, e também uma pandemia. “Mais do que viver em uma nova estrutura para nos adequarmos à nova realidade, passamos por um processo de precarização das relações de trabalho, com terceirização, trabalho por aplicativos. Foram criadas novas formas de organização e precisamos atuar junto à metade da força de trabalho que está no mercado e não está formalizada.” 

Segundo Camargo, a CUT deixa de ser sindicato apenas de trabalhadores formais para buscar essa forma de organizar o conjunto da classe trabalhadora, independemente de vínculo laboral. “Vivemos 20 anos de ascensão, dez anos em que o movimento sindical se adaptou, sem grandes desafios, e os últimos dez anos de resistência contra o golpe, desde sua organização em 2013, com as manifestações nas ruas”, conta. 

Para o dirigente, o duro ataque às estruturas sindicais fez a CUT iniciar um novo ciclo, de buscar e recuperar a participação do sindicato na construção das relações trabalhistas, trazendo de volta a contratação e o acordo coletivo, o financiamento democrático decidido pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras e, somando-se a isso, estratégias de como se inserir na vida desses trabalhadores.

Consciência social
Para Camargo, o maior desafio atual é conscientizar esses trabalhadores e trabalhadoras de que a organização sindical é o principal instrumento de defesa de seus direitos. Em especial os trabalhadores de aplicativos que têm resistência conceitual à organização, por não perceberem que são trabalhadores, acreditando que são empreendedores.  

“Estamos fazendo um trabalho para que eles tenham proteção, estejam inseridos nesse sistema. E nessa relação, nesse debate, queremos trazer para esse trabalhador que ele entenda que sozinho é elo fraco e facilmente explorado. Ou seja, fazer que com que ele, se sentindo parte desse arcabouço capitaneado pela CUT, verifique que o melhor lugar para se sentir protegido, e tendo liberdade de expressão, é o movimento sindical, em especial a CUT”, conclui.

40 anos de luta e vitórias
A criação da CUT desafiou a legislação sindical da década de 1980, que proibia a organização dos trabalhadores de diferentes categorias em uma só entidade. A CUT foi a primeira central sindical criada após o golpe de 1964 e também a primeira no país a ser lançada pela base.

Essa história começou em um 28 de agosto de 1983 e, pela voz e voto de mais de 5 mil trabalhadores e trabalhadoras vindos de todas as regiões do país, nascia a CUT. Em números exatos,  foram responsáveis pela criação da Central 5.059 delegados, representando 912 entidades – 335 urbanas, 310 rurais, 134 associações pré-sindicais e 99 associações de funcionários públicos, cinco federações, oito entidades nacionais e confederações. Trabalhadores e trabalhadoras que ocuparam o galpão que um dia sediou o maior estúdio cinematográfico brasileiro, da extinta Vera Cruz. Em 2013, foi de novo nesse endereço que a CUT celebrou seus 30 anos.

O 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat)  deu origem à primeira entidade intersindical e Intercategorias de alcance nacional construída após o golpe militar de 1964. 

O Brasil enfrentava uma crise econômica com inflação de 150% e índices manipulados desde anos anteriores; devia mais de US$ 100 bilhões. O mesmo Fundo Monetário Internacional (FMI) que pediu dinheiro emprestado ao Brasil no governo Lula era então o bicho papão dos países pobres. Àquela época, o Brasil se rendeu e estendeu o chapéu ao Fundo, rifando assim a sua soberania.

Um mês antes de a CUT ser fundada, houve greve geral em todo o país. Como efeito da recessão, apenas nos dois primeiros meses de 1983, a indústria paulista demitiu 47 mil trabalhadores, quase o total das demissões do ano anterior. O brasileiro vivia sob repressão, recessão, desemprego e com salários achatados e corroídos pelos índices inflacionários. Ou seja, 40 anos depois, o país retrocedeu, e enfrentamos uma realidade similar.

Naquela época, o cenário levou o congresso de fundação da CUT a aprovar as lutas pelo fim da Lei de Segurança Nacional e do regime militar, o combate à política econômica do governo (o general João Batista Figueiredo era o presidente da República), contra o desemprego, pela reforma agrária sob controle dos trabalhadores, reajustes trimestrais dos salários e liberdade e autonomia sindical. Os trabalhadores lutavam também pelo direito à cidadania e contra o autoritarismo dentro e fora dos locais de trabalho, recheados por “olheiros” da ditadura disfarçados de trabalhadores.

Para o primeiro ano de vida da CUT, foi eleita uma coordenação cujo coordenador-geral era Jair Meneguelli, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema (hoje Metalúrgicos do ABC), que estava sob intervenção. Somente em 1984, a CUT elegeu uma direção com chapa completa e seu primeiro presidente também foi Meneguelli.

Começaria, então, a história de uma central que hoje está presente em todos os ramos de atividade econômica do país, com 3.960 entidades filiadas, 7,9 milhões de associados(as) e 25,8 milhões de trabalhadores e trabalhadoras na base.

Classista e autônoma
A Central Única dos Trabalhadores é uma organização sindical brasileira de massas, em nível máximo, de caráter classista, autônomo e democrático, cujo compromisso é a defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.

Baseada em princípios de igualdade e solidariedade, seus objetivos são organizar, representar sindicalmente e dirigir a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras da cidade e do campo, dos setores público e privado, ativos e inativos, por melhores condições de vida e de trabalho e por uma sociedade justa, igual e democrática. Está presente em todos os ramos de atividade econômica do país.

Desde a sua fundação, a CUT tem atuação fundamental na disputa da hegemonia e nas transformações ocorridas no cenário político, econômico e social ao longo da história brasileira, latino-americana e mundial.

A CUT defende a liberdade e autonomia sindical com o compromisso e o entendimento de que os trabalhadores/as têm o direito de decidir livremente sobre suas formas de organização, filiação e sustentação financeira, com total independência frente a Estado, governos, patronato, partidos e agrupamentos políticos, credos e instituições religiosas e a quaisquer organismos de caráter programático ou institucional.