Em assembleia, trabalhadores da Nuclep pedem saída do presidente e da diretoria
Na gestão Bolsonaro, o contra-almirante Seixas promoveu demissões, cancelou instâncias participativas e ampliou cargos comissionados, muitos ocupados por militares. Agora, tenta intimidar judicialmente dirigentes sindicais.
Os trabalhadores da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) querem que o novo governo destitua a diretoria e o atual presidente da empresa, o contra-almirante Carlos Henrique Silva Seixas, oficial General da Reserva da Marinha, empossados na gestão Temer e mantidos por Bolsonaro, e acusados pelo corpo funcional de terem inchado e militarizado os postos comissionados. Estatal vinculada ao Ministério das Minas e Energia, a Nuclep é uma das maiores indústrias de equipamentos pesados do mundo e atualmente integra o projeto do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, estratégico para a soberania nacional.
Em assembleia realizada no dia 13 (segunda-feira), em Itaguaí (RJ), trabalhadores da Nuclep aprovaram o encaminhamento ao governo da exigência da saída da diretoria. O Sindicato dos Metalúrgicos Fluminense (Sindimetal-RJ), filiado à CTB, enviou aos parlamentares da base do governo Lula documento que registra a reivindicação tirada na assembleia, pela substituição dos gestores. Como resposta, Seixas e também o diretor adminsitrativo, contra-almirante Oscar Moreira da Silva Filho, e o diretor comercial e industrial, Nicola Mirto Neto, interpelaram judicialmente os dirigentes sindicais que assinam o texto, alegando terem sido ofendidos em sua honra.
Os deputados federais Benedita da Silva (PT-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Glauber Braga (Psol-RJ), o presidente da CUT-Rio, Sandro Cezar, e o presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), Olímpio Alves dos Santos, gravaram depoimentos solidários com os trabalhadores, em repúdio à tentativa de judicializar a mobilização dos trabalhadores. Trata-se de manobra intimidatória, segundo Sandro Cezar, que não será admitida pelo movimento sindical.
“A Nuclep é uma empresa estratégica para a Defesa e a soberania nacional”, afirma Olímpio, do Senge RJ. “É inadmissível que projetos críticos como o do submarino nuclear e toda a tecnologia nacional acumulada nessa indústria tenham à frente uma direção que esteve alinhada a um governo de natureza antidemocrática como o de Bolsonaro. É urgente a troca da direção da Nuclep.” O Senge RJ se solidariza com os trabalhadores da estatal, coloca sua estrutura à disposição para fortalecê-los nessa luta, e emitu nota oficial de apoio à mobilização (leia aqui).
Uma das medidas da direção contestadas pelos trabalhadores foi a suspensão das comissões paritárias que contavam com a presença de representantes do Sindimetal-RJ ou da Associação dos Empregados da Nuclep (AEP). Eram instâncias para debates de aspectos operacionais e demais temas que fossem do interesse do corpo de colaboradores. A diretoria cortou qualquer relação com representações de trabalhadores. Também promoveu demissões em massa (296, que reduziram o quadro de 1.058 para 762), o que produziu antecipação de aposentadorias, com perdas de direitos. Uma decisão do Ministério Público do Trabalho chegou a proibir a empresa de fazer novas dispensas.
Por outro lado, o número de cargos comissionados mais do que dobrou. No governo do PT, em 2008, a empresa somava 37 comissionados, que passaram para 93 na gestão atual, um aumento de 151%. Destes, pelo menos 12 são militares. Por exemplo, além do presidente e do diretor Administrativo, o contra-almirante Oscar Moreira da Silva Filho, também são oficiais o diretor Industrial, capitão-de-mar-e-guerra Sérgio Augusto Alves Fernandes; o gerente geral de Compras e Serviços, capitão-de-mar-e-guerra Fernando de Jesus Coutinho; o presidente do Conselho de Administração, vice-almirante Ney Zanella dos Santos; o gerente geral de Segurança Patrimonial e Infraestrutura, capitão-de-mar-e-guerra Gilberto Barros dos Santos, etc...
O contra-almirante Seixas é graduado em Ciências Navais pela Escola Naval, especializado em Histórias das Relações Internacionais, com mestrado e doutorado em Ciências Navais, mas não tem formação na área nuclear. Entrou na Nuclep em 2016 como diretor Administrativo, ainda militar da ativa, indicado pelo Solidariedade ao governo Temer. No final de 2017, assumiu como interino e, na sequência, foi confirmado titular da Presidência pelo Conselho Administrativo. Como o Solidariedade integrou a base do governo Bolsonaro, manteve-se na direção e, nesse período, foi promovido a contra-almirante (em 2010) e passou à Reserva.
Foto: Divulgação / Sindimetal Rio