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“É preciso derrotar o Estado Islâmico”, diz Amorim

Ex-ministro Celso Amorim fala sobre os conflitos mundiais em atividade do SENGE-RJ

Por André Vieira e Camila Marins*


Brasil de Fato

O Brasil de Fato entrevistou o embaixador brasileiro Celso Amorim, ex-ministro de Relações Exteriores e ex-ministro de Defesa, que falou sobre importantes temas do cenário mundial. A conversa ocorreu durante o ciclo de palestras “O Brasil que você não vê na TV”, promovido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio (SENGE-RJ). Nela, o diplomata relembra os 10 anos da derrubada da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), projeto combatido pelos movimentos populares brasileiros.

Outros temas, como a ocupação do Haiti pelas forças armadas do Brasil, que comanda a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), e o conflito existente contra o Estado Islâmico, completam a conversa com o embaixador. Você lê, agora, os principais trechos desse diálogo.

 

Alca

Embora corretamente possa marcar 2005 como o enterro da ALCA [Área de Livre Comércio das Américas], na verdade entre 2003 e 2004 já estava claro que ela não prosperaria. Os próprios proponentes tinham se desinteressado porque o acordo tinha se tornado menos desequilibrado. Para o Brasil foi muito importante isso, porque evitou que a gente perdesse autonomia, por exemplo para a produção de medicamentos genéricos, para utilizar o poder de compra do Estado para fomentar a política industrial, dentre outros. 

 

Militares no Haiti

Eu sei que muitos setores, inclusive nos movimentos sociais, são críticos à presença do Brasil no Haiti. Eu não chamaria de ocupação militar, porque ela foi uma ação das Nações Unidas que visava estabelecer uma situação de mínima estabilidade no país. Ao meu ver, foi em benefício dos próprios haitianos. Claro que também são importantes ações no campo social e econômico.

 

Oriente Médio

O conflito como existe hoje é resultado da destruição das estruturas estatais na região, começando pelo Iraque. Essas seitas fundamentalistas já existiam desde o século XVIII, mas elas puderam prosperar na medida em que se criou um vazio de poder depois do bombardeio do Iraque pelos Estados Unidos, sem autorização das Nações Unidas.  

 

Estado Islâmico

A causa imediata do surgimento do Estado Islâmico é a destruição das estruturas estatais. Não vejo conciliação possível. Com um grupo que degola pessoas e faz propaganda disso, que trata as mulheres da pior forma, não há conciliação possível. É preciso usar as forças armadas, mas só elas não resolverão o conflito. É preciso entender as raízes dos problemas da região, que são duas principais: a destruição dos Estados existentes, o que vai levar tempo para refazer; e o outro problema é o conflito entre Palestina e Israel.

 

Soluções para os conflitos

Eu acho que implica em conter e derrotar o Estado Islâmico como ele existe, mas implica também na volta do processo de paz no Oriente Médio e na busca por uma solução adequada para o conflito entre Israel e Palestina, dentre outras questões. Agora, o fato de não haver avanços em questões centrais e de as estruturas estatais estarem destruídas em alguns países fez com que as rivalidades que já existiam fossem aumentadas. Um aspecto do projeto deveria ser o Oriente Médio livre de armas nucleares. 

 

*Camila Marins é jornalista da Fisenge.