Consumidores devem se organizar para evitar abusos
Com receita de mais de 1 bilhão, concessionária segue oferecendo serviço de baixa qual
Fonte: Vivian Virissimo, do Brasil de Fato
(Foto: Pablo Vergara) |
Mesmo com receita de R$1,737 bilhão, a Light segue sem fazer os investimentos necessários para oferecer um serviço de qualidade. Esse é o diagnóstico do presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio (Senge RJ), Olimpio dos Santos Alves. O sindicalista é taxativo: “Se a gente quiser melhorar o serviço, só tem um caminho: os consumidores precisam se organizar”.
Brasil de Fato - Em 2013, o carioca ficou, em média, 15h21 minutos sem energia. O limite, estipulado pela Aneel, é de 9h2 minutos. Afinal, porque não há fiscalização?
Olimpio do Santos Alves - Porque após a privatização os governos criaram agências reguladoras que estão, em sua grande maioria, capturadas pelas grandes empresas privadas. Algo que ocorre em todos os setores e é próprio do neoliberalismo que acredita que o mercado se autorregula. Se a Light não presta um serviço adequado, deveria ser aplicada uma série de multas. O serviço de energia é monopólio do Estado que pode conceder para que empresas o explorem. Mas tem prestar um bom serviço. Se isso não acontece, a concessão deve ser tomada.
Diante das falhas recorrentes, o deputado Fernando Jordão (PMDB) enviou um ofício à Aneel pedindo a caducidade dos contratos com Light e Ampla. Como o senhor vê isso?
É importante. Mas acho difícil que a Aneel tenha coragem. Esse tipo de coisa só ocorre se a população entrar no jogo, reivindicando um serviço de qualidade. Caso contrário, fica um jogo entre eles: a Aneel multa, a concessionária recorre, o processo se arrasta por dez anos e é extinto no Judiciário.
Só nos últimos dias aconteceram protestos contra a Light na Mangueira, Morro da Matriz, Campo Grande, Tijuca. Além de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Magé. Como avalia essa série de manifestações?
O protesto dessas pessoas, para a mídia comercial e para o poder, não tem tanto peso. Ou não tem tanto peso como a manifestações do pessoal de Copacabana e Ipanema. Quando se fala em 15 horas sem luz, é sinal que os bairros do subúrbio e da periferia devem ter ficado mais de 30 horas sem energia. O que pode significar uma interrupção de mais de 24 horas. Ficar sem energia causa vários transtornos, se perde comida, o trabalhador não consegue dormir para encarar a jornada, acaba ficando sem água. Sem falar nos picos de energia que danificam geladeira, ventilador, microondas. Isso acontece demais.
A Light tem alegado que as interrupções acontecem por causa de furtos de cobre. Isso se sustenta?
Não. As interrupções acontecem por falta de investimento. É natural que nessa época do ano o consumo de energia elétrica aumente. Se não investe na rede, ocorre sobrecarga. Outra coisa: a Light demora a agir porque não tem capacidade para atender os problemas que ocorrem simultaneamente. Os trabalhadores que atuam na manutenção não são da Light, são terceirizados. Com a alta rotatividade, as pessoas não conhecem o sistema como um todo. Sem falar nos baixos salários. Destaco, ainda, que é proibida a terceirização no serviço elétrico e a Aneel não fiscaliza.
O último aumento da tarifa aconteceu sem a realização de uma audiência pública presencial. Na época, o Senge encaminhou um ofício a Aneel. Vocês tiveram algum retorno?
Não. No meu entender, a Aneel está para atender os problemas das empresas, não os dos consumidores. Essas empresas deveriam prestar um serviço ao público e não aos acionistas. Se a gente quiser melhorias, só tem um caminho: os consumidores precisam se organizar de fato. O modelo poderia ser uma associação nacional de consumidores.