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Carta aberta ao general Villas Boas: em busca da grande reconciliação nacional

Economista Ceci Juruá, doutora em Políticas Públicas, escreve uma carta ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas.

(Foto: Fernando Alvim/Portal do Clube de Engenharia)

 

Fonte: SOS Brasil Soberano

Prezado General Villas Bôas,

Quem lhe escreve é uma cidadã brasileira que tem o maior respeito pelas Forças Armadas do Brasil.  Eu acredito, julgo, que toda pessoa ou instituição tem direito, ao longo de sua existência, a erros e a acertos. Julgar é fazer um balanço, lançar os créditos e os débitos.

Revendo a história do Brasil emancipado, analiso que as Forças Armadas já prestaram grandes serviços à Pátria. Em tempos de guerra e de paz. Destaco, em tempos de paz, o apoio à industrialização do Brasil e a decisiva participação na criação e na expansão da Petrobras. E de muitas outras estatais que contribuíram para o fortalecimento de um Estado soberano e para uma trajetória de desenvolvimento econômico:  Embraer, Portobras, Telebrás, Embrapa, Nuclebrás, Ceme são exemplos, mas houve muitíssimas outras.

Passo ao largo dos erros cometidos, divulgados amplamente pela mídia. Enfatizo, no entanto, o envolvimento de lideranças militares por personalidades estrangeiras, que os levaram em algumas ocasiões a desvios em matéria de defesa da Pátria. E ao desrespeito à Soberania Popular. Gostaríamos que isto não mais se repetisse, o divórcio entre o povo e os militares interessa apenas às nações e aos atores que são inimigos de nossa independência e de nosso desenvolvimento soberano.

Neste trágico momento, nesta fase em que os pilares da economia brasileira estão sendo desmontados e entregues à sanha do capital financeiro internacional, precisamos do apoio das FFAA, mais do que nunca. Que elas se posicionem claramente em defesa da democracia e da ética pública. Na qual destaco não apenas o desvio de dinheiro público, praticado por nacionais e por estrangeiros, mas, principalmente, indecisões dos tribunais e um sério desrespeito à Constituição e aos princípios constitucionais da Justiça que adotamos solidariamente no Pacto de 1988, e nas normas jurídicas decorrentes.

Não podemos tampouco admitir, caro General Villas Bôas, a venda de nossas terras a estrangeiros.  Conhecemos bem a história da África e a história de sua destruição por nações que visaram dominar o mundo e apropriar-se da riqueza de todos os povos.  Somos um povo que sempre aspirou à PAZ.  Não queremos que forças militares estrangeiras ocupem nosso território, nem o vigiem pelo ar ou pelo mar.

Estamos profundamente descontentes com a entrega de nosso patrimônio natural, artístico, econômico e tecnológico, a grupos internacionais. Liquidado a preços de banana, é o que se diz, e o que julgo também. Não queremos tampouco a desestruturação de nossas empresas, algumas quase seculares, vencedoras no palco competitivo do comércio internacional.  Diz o grande autor francês, Alain Touraine: na guerra atual da globalização econômica, também as empresas são soldados da Pátria.

Conhecemos hoje, nós brasileiros e informados, todas as perfídias do neoliberalismo. A globalização deveria consistir no amplo apoio de Nações Soberanas à Paz Mundial, à erradicação da fome e da miséria, e à melhor distribuição dos frutos do desenvolvimento em cada país. Mais do que isto, como a imposição de modelos de sociedade, ou a ditadura de tratados internacionais injustos, é imperialismo.

Inadequada também é a permissividade que impera entre nós quanto à questão da cidadania. Todos que consideramos esta terra como nossa Pátria sabemos que podemos fazer deste nosso país uma Nação singular, se formos capazes de “organizar um projeto nacional direcionado para a construção da cidadania” (1). O proponente desse projeto coloca, com grande acerto:

Como preliminar, coloco que a importação ideológica – seja liberal, seja religiosa, seja marxista – será sempre redutora de um projeto abrangente, da efetiva construção nacional. Mas, sem dúvida, iremos nos valer do instrumental metodológico que estas e outras filosofias proporcionam.

Sem concluir, como alguns historiadores já fizeram, que a imigração tem sido prejudicial ao Brasil, penso que devemos ser mais seletivos e mais exigentes no que diz respeito à concessão do adjetivo “brasileiro” aos que aqui aportam como aventureiros. Penso também que cidadãos com dupla nacionalidade não podem ocupar cargos dirigentes em qualquer dos três poderes da República.  É preciso colocar limites em matéria de Poder de Estado, sem prejuízo dos direitos civis consagrados na Constituição brasileira.

Romper os atuais impasses, gerados por um golpismo de baixa qualidade, vai exigir um esforço gigantesco de reconciliação nacional. Acredito que as FFAA poderiam contribuir para esta tarefa, se puderem fazer um pronunciamento muito claro, e sincero, em defesa da Pátria.  Da Democracia e da Soberania Popular.  E do respeito que todos devemos às riquezas e ao patrimônio acumulado graças ao suor de nosso povo. Sem admitir pilhagem nem malversação dos bens públicos. E estancando o que caracterizou os tempos de colonização e do Império: as veias abertas do Brasil e da América Latina.

Respeitosamente,

*Ceci Juruá, Economista, pesquisadora independente, doutora em Políticas Públicas.   
Rio de Janeiro, 27-09-2017

 

[1] Ver texto de Pedro Augusto Pinho.  Toga, farda, sotaina e outras vestes.