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Ainda em contagem, votos pela esquerda crescem

Oposição não apresenta propostas concretas em alternativa ao atual governo

 

André Vieira*

de Cochabamba (Bolívia)


Conforme vai avançando a contagem de votos, a opção “Sim”, defendida pela esquerda boliviana liderada pelo presidente Evo Morales, vai diminuindo sua distância em relação a opção opositora do “Não”.  Até o início da tarde desta terça-feira (23), com 24.637 das 29.224 urnas apuradas, o “Não” ainda vence por 52,72%, que significaria a manutenção do artigo 168 da Constituição, não permitindo assim que o presidente Evo Morales se candidatasse para um quarto mandato nas eleições de 2019. Os votos pelo “Sim” à mudança na Constituição até o momento alcançou 47,28% até o momento. A contagem continuará até que alcance 100% e seja produzido o resultado final.


Na manhã desta segunda-feira (22) o mandatário boliviano deu uma entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros na cidade de La Paz e denunciou que a direita de seu país utilizou mentiras para derrotá-lo. “Como eles [a oposição] não tem como me atacar, usam uma guerra suja com mentiras e mais mentiras”, criticou Evo Morales ao afirmar que a oposição não tem propostas concretas em alternativa a seu governo.

 
CAMPANHA SUJA

Nas últimas semanas de campanha, os opositores utilizaram as redes sociais para atacar o presidente boliviano, com informações divulgadas pela imprensa e outras inventadas. Em uma delas, acusam Evo Morales de favorecer negociações entre Estado Boliviano e uma empresa chinesa, onde uma de suas ex-namoradas é executiva, o que caracterizaria tráfico de influência. A denúncia feita no início de fevereiro pelo jornalista Carlos Valverde, ex-militante da Falange Socialista Boliviana, grupo que deu apoio ao ditador Hugo Banzer Suárez.


Assim que a informação foi divulgada pelo comunicador, o presidente declarou que era um absurdo a denúncia e pediu para que o congresso de seu país abrisse uma comissão para investigar o caso. “Como por uma questão de cobiça, de inveja, de interesses de caráter setorial ou interesses alheios aos interesses da Bolívia se pode mentir, caluniar para prejudicar à Bolívia”, completou Morales na entrevista coletiva ao se referir à campanha contra seu governo nas redes sociais apoiadas por denúncias apresentadas pela imprensa privada.


OPOSITORES SEM PROPOSTAS

Mesmo sem os resultados finais, a oposição boliviana saiu para festejar ainda na noite do domingo (21). Reunidos em uma praça na cidade de Cochabamba, no altiplano boliviano, as quatro pessoas entrevistas por nossa reportagem tinham uma coisa em comum: afirmaram que a oposição boliviana ainda não tem uma proposta alternativa ao governo de Evo Morales. “Agora eu não saberia falar das propostas da oposição. Sei que não gosto desse governo”, disse o estudante Alex García, que comemorava junto a seu irmão.


Outro eleitor opositor, Lizandro Ramires, enfeitou sua camionete para festejar a vitória do “Não” junto à sua família. “Acho que as propostas ainda vão surgir nesses três anos que faltam do governo de Evo Morales. A Constituição Federal deve ficar bem estabelecida com o voto “não” e as propostas serão estabelecidas nos próximos quatro ou cinco anos quando serão convocadas as eleições”, disse o morador de Cochabamba atrapalhando-se com as datas. Já definida, a eleição para presidente ou presidenta ocorrerá em 2019.


Senadora pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), Carola Arraya também concorda com os eleitores opositores sobre a falta de propostas da direita boliviana. “A única proposta dos líderes da oposição é que os grandes ladrões que foram para os Estados Unidos, como Gonzalo Sánchez de Lozada, Manfre Freire Villas, Sanchez Berzain, voltem à Bolívia para exercer o poder que tinham antes. E isso não vamos permitir”, sustentou ao se referir a alguns líderes da direita.
 

*Esta cobertura é promovida pelo Sindicato dos Engenheiro no Estado do Rio de Janeiro (SENGE-RJ) em parceria com o Brasil de Fato.